domingo, 27 de setembro de 2009

O Ético-Político e a Universidade

Ubiracy de Souza Braga*
Nietzsche foi um pensador radical e altamente original. Ele foi profético, poético e profundamente crítico em relação à filosofia de seu tempo. De estilo absorvente, a intensidade de seus escritos tornaram suas idéias bastantes atraentes para um público em geral, muitas vezes leigos, e em razão disto a qualidade intelectual do seu pensamento tem sido muitas vezes omitida. De saúde frágil, ele renunciou ao cargo na Universidade de Basiléia por conta de sua astenia.
Mas deixou-nos como legado, a idéia posteriormente retomada por Heidegger de que, se a memória é a concentração do pensamento, "então o homem pode pensar à medida que tem a possibilidade de pensar". Mas talvez o homem queira pensar e não possa. Em última instância, com este querer-pensar o homem quer demais e, por isso, pode de menos. E, no entanto... Talvez o homem vem agindo demais e pensando de menos. Por isso nunca é demais repetir que "parece presunçoso afirmar que ainda não pensamos".
Para Gaston Bachelard os centros de devaneios bem determinados, são meios de comunicação entre os homens do sonho com a mesma segurança que os conceitos bem definidos são meios de comunicação entre os homens do pensamento, como a casa que, em face da hostilidade, com as formas animais da tempestade e da borrasca, os valores de proteção e de resistência da casa são transformados em valores humanos. A casa toma as energias físicas e morais de um corpo humano. Tal casa chama o homem a um heroísmo do cosmo. Analogamente a universidade não tem a representação social para a "comunidade acadêmica", no sentido que emprega Richard Rorty.
A universidade vem sendo idiotizada pelo ager publicus, é preciso, pois, desvincular essa "prática de lugar" para uma "prática de espaço" reconhecidamente pluralista, onde a diversidade e a diferença edifiquem-se como exemplo de democracia, em benefício da produção do saber e não do contrário, como ocorre nestes dias. Um membro não é, portanto, apenas uma pessoas que respira e pensa. É por extensão alguém que, tendo incorporado os etnometodólogos de um estamento ou grupamento social considerado, exibe naturalmente a competência social que o agrega a esse grupo e lhe permite fazer-se reconhecer e aceitar.
* Sociológo, Cientista Político. Professor da Coordenação de curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).